quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Esquina I


Seria numa quarta-feira de primavera. A buganvília meio roçando e lavando a vidraça da janela. Ela havia acordado antes do despertador e aproveitando a despedida da madrugada, iria ao jardim procurando em qualquer detalhe uma nova mudança onde a fizesse embolsar o dia. Sentiria das auras das madrugadas ao cheiro do orvalho numa pétala de flor. Sentiria o espinho, e o acariciaria. Molharia seus pés ainda quentes na grama úmida. Mudaria uma roseira de lugar. Prepararia um café enquanto ouvisse musicas e brincasse com o gato, ambos sentados num degrau. Vestiu-se de um leve e rodado vestido com rendas cor de pérolas. Esse vestido ainda meio velho se acomoda perfeitamente ao colo dela. Pentearia o cabelo como se mergulhasse os dedos em sacos de plumas. Perfumar-se-ia dos mais belos aromas, algo como se aquela fragrância ainda meio adormecesse o enceto do dia. Desligaria as tomadas, colocaria ração para o bichano. Lavarias os pratos guiando-se através de um olhar as bolhas de sabão. Levaria as correspondências para uma mochila, colocaria o jarro na mesa e organizaria as cadeiras da mesa. Aproveitaria a oportunidade, acrescentaria ao jarro mais uma flor, essa verdadeira, junto às outras já um tanto desvalidas. Passaria em frente ao espelho, pensaria em mudar de roupa e vestir um jeans, colocou uma gargantilha de prata com pedrinhas cor de rosa de sua biza. Trancaria a porta, aprumaria o tapete, afastaria o espada de Seu Jorge. Subiria em sua bicicleta, desceria a rampa de casa, pedalaria uns seis metro e dobraria a esquina.

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