segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Sobre o divã


Atravessou a porta como quem entra em casa, olhou em volta e viu que nada mudou. O sofá marfim, confortavelmente coberto com uma manta que na etiqueta dizia: fabricado em Olinda PE. Percebeu então que o certificado na parede afirmava, xxxxx xxxxxx formada pela Universidade Federal de Pernambuco, intitulava então uma Doutora Náuticana de sangue. Como estão as coisas, xxxxx? Alguém perguntou. Como sempre! Uma frase bastante comum em um diálogo como esses. Ainda que muitas novidades, poucas estaria feliz em contar. Discorria muitas coisas ao mesmo tempo, passagens bem diferentes com sentidos em comum. Enquanto o tempo passava, prendia e soltava os cabelos várias vezes, ela cruzava as pernas até encontrar uma posição um tanto confortável. Relatou que ele foi embora, que talvez estivesse melhor sem ele, já havia pensado como seria perigoso conviver com ele hoje em dia. Saiu de casa, brigou com a família e estava morando temporariamente com uns conhecidos. Tentava explicar como as coisas mudavam sem desfazer sua composição, ...É como água! Sou como a água, preciso de todos os estados, no entanto minha composição continua a mesma. Ainda que em tempos eu seja sólida, em algumas circunstâncias me encontrarei tão frágil quanto líquida, tão insegura como se vaporizada. Dessa vez, quase não falou sobre o passado, relatou muito sobre o hoje. Disse que apesar de tudo, tentava ver as coisas com tranqüilidade. Confessou em um momento que se sentia triste, não por tudo, mas pela família, viver sem ela não faria sentido. Por mais que longe, jamais largaria seu verdadeiro lar, mas poucos entenderiam que mudar nem sempre quer dizer modificar. Ficou minutos em silencio... Com mãos inquietas, fazia e desfazia tranças na franja da manta do sofá. Ela não chorou dessa vez, ela parecia mais aliviada ,entretanto, confusa. Alterou de ar em um instante, balbuciou outras, e já bem no finalzinho, como se negasse concluir sem confessar disse, Conheci alguém bacana! Estamos no mesmo barco... Não sei até quando ele remará comigo, porém aspiro sua compania. E assim cruzou a porta como se estivesse ali não para consultar hipóteses, mas pra olvidar determinadas práticas!

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