segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Esquina II

Ascendeu o cigarro para aquecer a boca da noite e esfriar o pensamento. Sentou-se no botequim, intui não ser o único privilegiado ali com desgostos da vida. Pediu um domec com apenas uma pedra de gelo, molhou o cotovelo no balcão que aparentou estar mais encharcado do que as queixas que deixou correr no rosto. Vestia calças de linho e uma blusa azul de botões. Enquanto acomodou-se em um banco desconfortável, retirou seu chapéu, e com a manga da blusa, enxugou a madeira do balcão, colocou o ao lado direito. Suas bebidas favoritas sempre foram drinques gelados, hoje, precisou da efervescência cáustica para aquecer a idéia. Sempre um homem correto, pagava seus impostos e assistia desfiles da independência. Aos domingos, gostava de escrever musicas que recebia melodias em dias de feriados. Da rua onde morava, sabia-se apenas que era um moço jovem, trabalhava muito e cuidava dos crisântemos da varanda. Naquela madrugada, tragou mais que fumou e soluçou mais do que bebeu. Saiu do bar mais que atônito, entrou no carro, esqueceu de ligar os faróis, esqueceu o chapéu no botequim, esqueceu de ligar a seta, e cruzou a esquina.

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